Ir para RDD10+

Finfluencers e IA: A Relação entre Popularidade e Competência

FAQ: Influenciadores em Finanças e IA – Popularidade versus Competência

Introdução

Bem-vindo ao nosso FAQ sobre a influência de influenciadores financeiros (Finfluencers) e influenciadores de Inteligência Artificial (IA). Com o crescente impacto das mídias sociais nas decisões individuais e coletivas, torna-se fundamental entender a relação entre a popularidade desses influenciadores e sua real competência técnica. Este FAQ explora os resultados de estudos recentes que investigam esse fenômeno, revelando padrões semelhantes em ambas as áreas e fornecendo orientações para uma análise crítica das informações compartilhadas nas redes sociais.

Perguntas Frequentes

1. Qual é a relação entre popularidade e competência técnica dos influenciadores em finanças e IA?

Estudos recentes revelam uma correlação negativa surpreendente entre a popularidade dos influenciadores e a qualidade de suas recomendações, tanto em finanças quanto em IA. Influenciadores altamente populares frequentemente fornecem conselhos de qualidade inferior quando comparados a especialistas menos conhecidos. Este fenômeno foi documentado em uma análise de mais de 29.000 influenciadores financeiros (Finfluencers) na plataforma StockTwits, onde se descobriu que os mais populares nem sempre eram os mais competentes.

A explicação para esse paradoxo está em fatores não relacionados à competência técnica, como carisma, habilidades de marketing e capacidade de simplificar conceitos complexos de maneira atraente. Esses elementos tendem a gerar mais engajamento e atrair mais seguidores do que o conhecimento técnico profundo, que muitas vezes é apresentado de forma menos acessível ou envolvente para o público geral.

Em ambientes digitais onde o algoritmo favorece o engajamento, conteúdos simplificados e sensacionalistas tendem a se destacar, mesmo quando tecnicamente imprecisos ou incompletos, criando uma distorção na percepção pública sobre quem são os verdadeiros especialistas em determinada área.

2. Como podemos classificar os influenciadores quanto à qualidade de suas recomendações?

Os influenciadores podem ser classificados em três categorias principais com base na qualidade de suas recomendações: habilidosos, não habilidosos e anti-habilidosos. Esta classificação foi desenvolvida em estudos sobre Finfluencers, mas é igualmente aplicável aos influenciadores de IA.

Os influenciadores habilidosos (cerca de 28% no estudo de Finfluencers) fornecem recomendações de alta qualidade baseadas em conhecimento técnico sólido, resultando em retornos positivos para seus seguidores. Eles geralmente possuem formação acadêmica relevante, experiência prática significativa e um histórico consistente de recomendações bem-sucedidas.

Os influenciadores não habilidosos (aproximadamente 16%) oferecem conselhos de qualidade neutra ou inconsistente, sem impacto significativo positivo ou negativo. Suas recomendações podem ser resultado de sorte ou de conhecimento parcial sobre o assunto, sem uma base técnica consistente.

Os influenciadores anti-habilidosos (surpreendentemente, 56% no estudo) fornecem recomendações prejudiciais que resultam em resultados negativos para seus seguidores. No contexto financeiro, isso se traduz em retornos negativos de investimento (aproximadamente -2,3% mensais). Em IA, pode levar à implementação de práticas inadequadas, escolhas tecnológicas errôneas e falhas em projetos.

3. Por que influenciadores com recomendações de baixa qualidade conseguem manter ou aumentar sua popularidade?

A persistência de influenciadores que fornecem recomendações de baixa qualidade pode ser explicada por diversos fatores psicológicos e sociais. Um dos principais é a homofilia, fenômeno em que pessoas tendem a se associar e seguir indivíduos com características ou crenças semelhantes às suas. Isso cria bolhas informacionais onde apenas visões similares são reforçadas, limitando a exposição a informações diversificadas e potencialmente mais precisas.

Os vieses de crença também desempenham papel crucial nesse fenômeno. As recomendações dos influenciadores, especialmente os anti-habilidosos, podem criar expectativas irrealistas entre os seguidores, levando a crenças persistentes que são difíceis de mudar mesmo diante de evidências contrárias. Esses vieses cognitivos fazem com que os seguidores continuem confiando em influenciadores mesmo após resultados negativos.

Além disso, a teoria da sobrevivência de especialistas não qualificados (Berk e Van Binsbergen, 2022) sugere que fatores como carisma, simplicidade da mensagem e alinhamento com as crenças prévias do público podem ser mais determinantes para a popularidade do que a precisão técnica. Os seguidores frequentemente não possuem as ferramentas ou conhecimentos necessários para avaliar adequadamente a competência dos influenciadores, perpetuando o ciclo de popularidade desconectada da qualidade.

4. Quais são os impactos das recomendações de influenciadores anti-habilidosos nas decisões de seus seguidores?

As recomendações de influenciadores anti-habilidosos têm impactos significativamente negativos nas decisões de seus seguidores, tanto em finanças quanto em tecnologias de IA. No contexto financeiro, os estudos revelaram que seguidores de Finfluencers anti-habilidosos experimentaram retornos negativos mensais de aproximadamente -2,3% em seus investimentos, representando perdas financeiras substanciais ao longo do tempo.

Além das perdas diretas, essas recomendações inadequadas criam vieses de crença persistentes entre os seguidores, levando a expectativas irrealistas sobre mercados financeiros ou capacidades tecnológicas. Esses vieses resultam em um ciclo de decisões subótimas, onde os seguidores continuam aplicando estratégias ineficazes mesmo diante de resultados negativos.

No campo da IA, seguir recomendações de influenciadores anti-habilidosos pode levar à implementação de práticas inadequadas, escolha de ferramentas ou metodologias inapropriadas, e desenvolvimento de soluções tecnológicas fundamentalmente falhas. Isso não apenas compromete a eficácia dos projetos de IA, mas também pode resultar em desperdício significativo de recursos, tempo e esforço, além de potenciais riscos éticos e de segurança quando sistemas de IA são implementados incorretamente.

5. Como as redes sociais amplificam a influência de recomendações de baixa qualidade?

As plataformas de mídia social desempenham um papel fundamental na amplificação da influência de recomendações de baixa qualidade através de diversos mecanismos inerentes ao seu funcionamento. Os algoritmos dessas plataformas são projetados para maximizar o engajamento, favorecendo conteúdo que gera mais interações, independentemente de sua precisão técnica ou qualidade informacional.

Conteúdos simplificados, sensacionalistas ou que confirmam crenças existentes tendem a gerar mais engajamento, sendo assim priorizados pelos algoritmos e alcançando audiências maiores. Essa dinâmica cria um ciclo de retroalimentação onde influenciadores anti-habilidosos, que frequentemente simplificam excessivamente conceitos complexos ou fazem promessas irrealistas, ganham mais visibilidade do que especialistas que apresentam informações mais nuançadas e tecnicamente precisas.

A velocidade de disseminação de informações nas redes sociais também contribui para esse fenômeno. No estudo com a plataforma StockTwits, observou-se que recomendações de Finfluencers, independentemente de sua qualidade, podiam alcançar milhares de seguidores em questão de minutos. Essa rápida propagação raramente é acompanhada por uma verificação adequada da qualidade da informação, permitindo que conselhos inadequados sejam amplamente disseminados antes que qualquer avaliação crítica possa ocorrer.

6. Quais estratégias podem ser adotadas para identificar influenciadores verdadeiramente competentes?

Identificar influenciadores verdadeiramente competentes requer uma abordagem multifacetada que vai além da simples observação de métricas de popularidade. Uma estratégia eficaz é examinar as credenciais formais e a experiência prática do influenciador, verificando sua formação acadêmica, publicações relevantes, participação em projetos significativos e reconhecimento por pares na área.

A análise do histórico de recomendações também é crucial. Influenciadores competentes mantêm um registro consistente de recomendações precisas ao longo do tempo, demonstrando persistência em suas habilidades. É importante avaliar não apenas os sucessos destacados pelo influenciador, mas buscar uma análise abrangente de todas as suas recomendações anteriores para identificar padrões de precisão.

A diversidade de perspectivas é outro indicador importante. Influenciadores competentes geralmente apresentam visões nuançadas, reconhecem limitações em suas análises e estão dispostos a revisar posições anteriores com base em novas evidências. Eles também tendem a fundamentar suas recomendações em dados concretos, pesquisas científicas e metodologias estabelecidas, em vez de opiniões pessoais ou anedotas isoladas.

Ferramentas de verificação independente e análise de dados podem auxiliar nesse processo, permitindo a avaliação objetiva da qualidade das recomendações ao longo do tempo, tanto em finanças quanto em tecnologias de IA.

7. Por que estratégias contrárias às recomendações de influenciadores anti-habilidosos podem ser eficazes?

As estratégias contrárias às recomendações de influenciadores anti-habilidosos têm se mostrado surpreendentemente eficazes, um fenômeno conhecido como “sabedoria da multidão anti-habilidosa”. No contexto financeiro, o estudo revelou que investir de forma contrária às recomendações dos Finfluencers anti-habilidosos resultou em retornos anormais positivos significativos.

Esse paradoxo ocorre porque influenciadores anti-habilidosos tendem a cometer erros sistemáticos em suas análises e recomendações. Esses erros não são aleatórios, mas seguem padrões previsíveis baseados em vieses cognitivos comuns, como excesso de confiança, pensamento de grupo e viés de confirmação. Ao identificar esses padrões de erro, é possível adotar estratégias que deliberadamente contrariam essas recomendações falhas.

No campo da IA, aplicar uma abordagem similar pode significar questionar sistematicamente práticas populares mas tecnicamente duvidosas, e explorar alternativas que possam ter sido negligenciadas ou descartadas por influenciadores populares. Esta estratégia requer uma compreensão sólida dos fundamentos da área e uma disposição para desafiar o consenso aparente nas redes sociais.

É importante notar que essa abordagem não sugere rejeitar automaticamente todas as recomendações populares, mas sim desenvolver um processo de avaliação crítica que identifique sistematicamente influenciadores anti-habilidosos e suas recomendações problemáticas.

8. Como a educação crítica e a alfabetização tecnológica podem mitigar a influência de recomendações inadequadas?

A educação crítica e a alfabetização tecnológica são ferramentas fundamentais para combater a disseminação e o impacto de informações inadequadas nas áreas de finanças e IA. Programas educacionais que desenvolvem habilidades de pensamento crítico capacitam os indivíduos a avaliar a credibilidade das fontes, identificar vieses e analisar a qualidade das informações apresentadas, em vez de simplesmente aceitar recomendações baseadas na popularidade do influenciador.

A alfabetização tecnológica específica para cada domínio é igualmente importante. No contexto financeiro, isso significa compreender conceitos básicos de investimento, riscos, retornos e diversificação. Na área de IA, envolve o entendimento dos fundamentos de aprendizado de máquina, limitações dos algoritmos e considerações éticas na implementação de sistemas inteligentes. Esse conhecimento básico permite que os indivíduos façam avaliações mais informadas sobre as recomendações recebidas.

Iniciativas que promovem a transparência e a verificabilidade das informações também são cruciais. Plataformas que implementam sistemas de avaliação por pares, verificação de fatos ou rastreamento do histórico de precisão dos influenciadores podem ajudar os usuários a identificar fontes confiáveis. A exposição a perspectivas diversas e o incentivo ao questionamento sistemático das informações recebidas também contribuem para mitigar o impacto de recomendações inadequadas.

Organizações educacionais, reguladores e as próprias plataformas de mídia social têm um papel importante na promoção dessas habilidades críticas entre seus usuários.

9. Quais são as implicações desses achados para o futuro da disseminação de conhecimento especializado nas redes sociais?

Os achados sobre a relação entre popularidade e competência de influenciadores têm implicações profundas para o futuro da disseminação de conhecimento especializado nas redes sociais. Primeiramente, eles destacam a necessidade de repensar os algoritmos das plataformas digitais, que atualmente favorecem o engajamento sobre a precisão técnica. Modelos alternativos que incorporem métricas de qualidade e verificação factual poderiam ajudar a promover conteúdo mais preciso e tecnicamente sólido.

O desenvolvimento de ferramentas de verificação e certificação de especialistas também emerge como uma necessidade. Sistemas que avaliam objetivamente a qualidade das recomendações ao longo do tempo e identificam especialistas genuínos poderiam ajudar os usuários a navegar pelo vasto oceano de informações disponíveis nas redes sociais. Isso poderia incluir selos de verificação baseados não apenas na identidade, mas na competência demonstrada.

A evolução dos modelos de monetização também é uma implicação importante. Atualmente, muitos influenciadores são incentivados a maximizar o engajamento para aumentar sua receita, o que pode entrar em conflito com a precisão técnica. Modelos alternativos que recompensem a qualidade e a precisão das informações poderiam alinhar melhor os incentivos econômicos com a disseminação de conhecimento de alta qualidade.

Por fim, esses achados sugerem a necessidade de uma abordagem colaborativa entre pesquisadores, profissionais, plataformas de mídia social e reguladores para garantir que o conhecimento especializado seja disseminado de forma responsável e precisa no ambiente digital.

10. Como esses fenômenos observados em influenciadores afetam diferentes áreas de conhecimento além de finanças e IA?

Os fenômenos observados na relação entre popularidade e competência de influenciadores em finanças e IA provavelmente se estendem a diversas outras áreas de conhecimento especializado. Em campos como saúde, nutrição, educação, direito e sustentabilidade, dinâmicas semelhantes podem ocorrer, onde influenciadores populares nem sempre fornecem as informações mais precisas ou os conselhos mais adequados.

A homofilia e os vieses de crença, identificados como fatores-chave na formação de redes de seguidores, são mecanismos psicológicos universais que operam independentemente do domínio específico. Assim, em qualquer área onde exista complexidade técnica e conhecimento especializado, existe o potencial para a disseminação de informações inadequadas por influenciadores populares mas tecnicamente menos competentes.

As implicações desse fenômeno variam conforme a área. Em saúde, por exemplo, recomendações inadequadas podem ter consequências diretas e graves para o bem-estar físico dos seguidores. Em educação, podem perpetuar métodos pedagógicos ineficazes. Em sustentabilidade, podem promover práticas que parecem ecológicas mas têm impacto ambiental questionável.

A necessidade de educação crítica, alfabetização específica ao domínio e ferramentas de verificação de qualidade é, portanto, universal. Estudos futuros devem explorar como esses fenômenos se manifestam em diferentes campos do conhecimento, identificando padrões comuns e desenvolvendo estratégias adaptadas para promover a disseminação responsável de informações em cada área específica.

Conclusão

A análise da influência de influenciadores em finanças e IA revela um padrão preocupante: a popularidade frequentemente não reflete a competência técnica. Em ambos os domínios, influenciadores altamente seguidos podem fornecer recomendações de baixa qualidade, com impactos potencialmente negativos para seus seguidores. Fenômenos como homofilia, vieses de crença e a dinâmica de amplificação das redes sociais contribuem para a persistência desse padrão.

Diante desses desafios, a promoção da educação crítica, da alfabetização tecnológica e de ferramentas de verificação de qualidade emerge como essencial. Ao desenvolver a capacidade de avaliar criticamente as informações recebidas e identificar fontes verdadeiramente competentes, podemos navegar mais eficazmente pelo universo de conhecimento disponível nas plataformas digitais, tomando decisões mais informadas e baseadas em evidências.

Fonte: Kakhbod, A., Kazempour, S., Livdan, D., & Schürhoff, N. (2023). Finfluencers. SSRN. Disponível em: https://ssrn.com/abstract=4428232. Acesso em: hoje.


Publicado

em

por

Tags:

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *